terça-feira, 11 de março de 2008

CIDADÃO KANE - G. MACEDO


CULTURA & ARTE

AUTOR GABRIEL MACEDO


Eis uma resenha que escrevi após assistir ao filme e ler sobre ele pela Internet.


citizen kane
webcine


A história do filme Cidadão Kane é introduzida ao espectador com a morte do empresário da imprensa mais respeitado e influente de sua época e em seu país. Charles Foster Kane, interpretado pelo diretor, produtor e roteirista Orson Welles, antes de morrer, pronunciou uma palavra apenas: “Rosebud”. A trama se envolve na tentativa do repórter Jerry Thompson (William Alland) de reconstituir a trajetória do jornalista e na sua busca do significado dessa misteriosa palavra. A morte de Kane comoveu toda uma nação e, para Thompson, decifrar o código contido em “Rosebud” se torna uma obsessão. O repórter acreditava que a vida atribulada e potencialmente polêmica de Charles Foster poderia ganhar um novo significado se ele encontrasse o motivo pelo qual o sensacionalista dissera aquilo antes de morrer em seu extravagante palácio que construiu na Flórida.

Jerry Thompson, imediatamente após descobrir o que dissera Kane no seu leito de morte, procura as pessoas “mais próximas” do homem. Ao longo do filme, Thompson coleta uma multiplicidade de registros e fontes, o que lhe possibilita criar perspectivas diferentes, as quais o espectador, como num quebra-cabeça, vai montando enquanto costura a personalidade do grande redator que fora Kane. O personagem de Orson Welles, a propósito, é claramente inspirado no magnata da comunicação William Randolph Hearst. Há, no filme, inúmeras alusões que remetem a ele. Controvérsias e pressões que procuraram impedir a montagem e exibição do longa-metragem surgiram, naturalmente, pois William Randolph Hearst julgou que a obra denegria sua imagem. Na realidade, muitos pontos entre as biografias de Hearst e Kane coincidiam.

Uma das poucas diferenças retratadas na trajetória do jornalista é a de que Kane nasceu de uma família pobre e humilde. O garoto Kane, no entanto, herda uma fortuna e passa a viver com um banqueiro, Walter Parks Thatcher (George Coulouris) e ser educado por ele. Longe dos pais, Charles procura espantar o fantasma da infância e resolve dedicar-se a um dos negócios menos rentáveis que experimentara: um jornal convencional e pouco influente. A exclusiva e bastante curiosa habilidade de noticiar de Kane exercerá um papel de extrema relevância em sua vida. Ele alcança o sucesso como “homem da mídia”. Cria-se, então, uma reputação fora do comum ao seu redor, o que o leva até mesmo a candidatar-se a governador em um dado momento. Até a meia-idade, Charles Foster Kane coleciona um verdadeiro tesouro de riquezas e notícias.

Extremamente esforçado e dedicado ao trabalho árduo, o empresário acaba afastando as questões pessoais e de seu íntimo. Escândalos e mais de um casamento fracassado acabam por derrubá-lo e, vagarosamente, o homem descansa em ruínas, perdendo suas virtudes e expandindo seus defeitos. Retrospectivamente, chega a ser visto como um homem amargo, arrogante, manipulador, cruel e impiedoso. O sonho americano, no entanto, está tatuado na sua trajetória: espírito de iniciativa, idealismo, dinheiro, fama, poder, mulheres e imortalidade.

O uso de flashbacks para revelar segredos do passado de Kane, a prática de longas seqüências sem cortes, tomadas de baixo para cima, imagens distorcidas e sombras são alguns dos elementos, sem dúvida, inovadores da produção de 1941. A iluminação é pouco convencional, o foco transita do primeiro plano para o plano de fundo, os diálogos mostram-se sobrepostos e os closes são usados com contenção. Cidadão Kane tem sido considerado, por parte da crítica especializada, como um dos maiores filmes da história. Até o momento, a produção figura o primeiro lugar no American Film Institute (AFI). No Oscar de 1942, foi indicado a oito estatuetas e conquistou a de Melhor Roteiro Original.