sábado, 29 de março de 2008

O CAMPEONATO BRASILEIRO DE 87 (FINAL) - R. BARROS


ESPORTE

AUTOR ROBERTO BARROS


A guerra da taça das bolinhas produz coisas surreais. Menos pela taça em si, mas pela falta de cuidado de muita gente em relação à informação. Não importa se você pensa que o Flamengo é penta ou se você está entre os avalistas da decisão da CBF, de proclamar o Sport campeão. Se você dispõe de todas as informações sobre o que se passou em 1987, tenha a sua opinião.

A questão é exatamente essa: informação. No domingo à noite, comentaristas gritavam na televisão brasileira; uns dizendo que o Flamengo deve chorar na cama, outros dizendo que o "Fla" é campeão porque não houve Primeira Divisão naquele ano. Um show de desinformação.

Na sexta-feira, no "Bate Bola", da ESPN Brasil, este colunista sugeriu enviar um texto explicativo, para quem nasceu em 1988, 1989 e 1990, um texto só com informações sobre o que se passou em 1987. Ao sair do estúdio e abrir minha caixa de mensagens, respondi 105 mensagens em quarenta minutos. Não era gente disposta a questionar se o Flamengo era penta ou não, era gente sedenta por informação.

Pois essa matéria-prima do trabalho do jornalista é violentada todo dia, quando alguém decide se o campeão é um ou outro, sem contar o que de fato aconteceu naquele ano. O que se passou foi uma ruptura, a partir da recusa da CBF em cumprir o que prometera no ano anterior: que os 24 melhores do Brasileirão de 86 formariam a Primeira Divisão em 87. A partir daí, os 13 maiores clubes do país decidiram fazer seu campeonato, a CBF propôs o cruzamento, o Clube dos 13 recusou e o campeonato já começou com o impasse que se produziu depois. Com o Sport campeão oficial (pela CBF), o Flamengo, campeão legítimo, porque até o Recife assistiu a Flamengo 1 x 0 Inter, na tarde de 13 de dezembro de 1987, como quem via a decisão do Campeonato Brasileiro.

O Santa Cruz, afinal, foi o representante de Pernambuco naquele ano. Daí, segue a minha opinião de que o FLAMENGO É PENTA, SIM SENHOR, DONO DA TAÇA DAS BOLINHAS! Mas é necessário o asterisco com os nomes dos supostos dois campeões, porque só assim o torcedor mais curioso irá em busca da informação a respeito do que realmente aconteceu no ano de 1987!

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FONTE> blog do PVC (Paulo Vinícius Coelho)

O CAMPEONATO BRASILEIRO DE 87 (2) - R. BARROS


ESPORTE

AUTOR ROBERTO BARROS


6. crise da CBF e Clube dos 13
É verdade afirmar que a CBF, desde 1986, vivia uma crise administrativa, agravada pela eleição de Otávio Pinto Guimarães, que supostamente seria "Testa de Ferro" de Nabi Abi Chedid na briga pela cadeira principal da entidade, em duelo com Medrado Dias.

A idéia de ter Otávio como cabeça da chapa se dava pelo risco de Nabi empatar com Medrado Dias (Dias levava vantagem por ser mais velho que Chedid, usado como critério para desempate).

Nem seria preciso, pois a chapa de Nabi ganhou por 13x12, após mudança de voto de Antônio Aquino (Presidente da Federação do Acre, na época), além do voto em branco de Belmiro Costa (Amazonas). Fala-se muito, inclusive, num possível esquema de compra de votos, mesmo que sem comprovação.

As confusões que explodiram na Copa Brasil de 1986 já mudaram os planos da CBF, que precisava reduzir o número de participantes da competição, formando uma primeira divisão com 24 clubes. Acabou cedendo para 28 times, definidos como os 7 melhores classificados da 2ª fase da edição de 1986.

Vale ressaltar que mesmo estando entre as 28 melhores campanhas no geral, nem Ponte Preta (21º), nem Sport (27º) teriam direito a disputar a primeira divisão em 1987. Atlético-GO (28º) e Náutico (31º) se deram melhor na 2ª fase e conquistaram o direito a essas vagas.

Segundo a revista Trivela (maio/07), Otávio Pinto havia declarado que seria inviável a realização da Copa Brasil em 87, o que deu margem para que os auto-proclamados grandes clubes do Brasil idealizassem uma competição entre si, buscando um contrato de US$ 18 milhões com patrocinadores, com validade de 5 anos.

O jornalista Sérgio Baklanos, conta que a formação do Clube dos 13 se deu após uma pesquisa nacional, onde identificaram os 13 times com maior poder de arregimentação de massas. Para formar os 16 times, por questões políticas, foram convidados Coritiba, Goiás e Santa Cruz.

O resultado da mais insana virada de mesa do futebol brasileiro é que, enquanto 14 times que tinham conquistado seu direito em campo (ver quadro "os excluídos"), Botafogo e o Coritiba não teriam direito algum de participar (ver quadro "pela janela"). Logicamente, equipes como América, Guarani e Portuguesa, que junto com Joinville e Criciúma tinham chegado entre os 16 melhores na última competição, reclamaram por seus direitos. Não havia outra saída para a CBF diferente de formar um novo grupo de times para validar o Brasileiro.

Dois erros foram fundamentais para a confusão: a falta de iniciativa da CBF e a falta de critério do Clube dos 13 em organizar o campeonato que, inegavelmente, trouxe volumosos recursos para o futebol nacional, mesmo que a grande fatia esteja ainda restrita ao próprio grupo.

Para compor o grupo dos excluídos com outros 16, bastaria incluir mais 2 times além dos 14 já citados. Por critérios técnicos, essas vagas deveriam ser preenchidas por Ponte Preta e Sport, mas ao invés da equipe de Campinas, quem ficou com a última vaga foi o Vitória.

Foi acordado e assinado um documento que previa um quadrangular entre os campeões e vices dos Módulos Verde (Copa União) e Amarelo (Copa dos que sobrariam). Mesmo não aceitando os termos, o Clube dos 13 assinou o regulamento, para que pudesse ter legitimidade o campeonato em que disputavam, evitando complicações maiores até com a FIFA. Entre eles (Clube dos 13), o discurso era que não fosse realizado tal confronto, tentando de todas as formas persuadir a CBF a concordar com essa proposta.

Sport e Guarani, finalistas do módulo amarelo, cumpriram o acordo e estiveram presentes nas duas primeiras rodadas do quadrangular, vencendo ambas por W.O. Depois, já sabendo que Flamengo e Internacional não iriam disputar os jogos, ficou decidida a antecipação do segundo jogo, concluindo o quadrangular.

Nas partidas entre Sport e Guarani, tivemos o seguinte resultado:
31/01/88 - Guarani 1x1 Sport
07/02/88 - Sport 1x0 Guarani

A CBF foi uma das principais catalisadoras da polêmica. Sem rumo e sem estrutura, cedeu espaço para que os clubes que formaram o C-13 tomassem de forma arbitrária e pirata a organização do futebol. O Sport é, indiscutivelmente, o campeão do Brasileiro de 1987. Equipes como Rio Branco, Joinville, Ceará, CSA, Atlético-GO e Treze, que conquistaram seu acesso no campo, até hoje não tiveram seu direito restabelecido, sendo as maiores vítimas de toda a desorganização criada na época. O América, que disputou a Copa União de 1988, após quase 1 ano de inatividade, por não concordar com toda a manipulação ocorrida em 1987, nunca mais voltou a figurar com força no cenário nacional. Em 1988, mais uma vez, não teve rebaixamento e os 8 melhores integrantes do Módulo Amarelo integraram a 1º divisão, ao lado dos 16 do Módulo Verde. Tecnicamente, uma mesma fórmula de disputa foi aplicada em 1993, quando apenas dois grupos teriam times com ameaça de rebaixamento, favorecendo o Grêmio.

Representantes do Brasil na Libertadores 88: Sport e Guarani.

Todos podem afirmar que o título de 87 é rubro-negro, contudo, jamais em referência aos rubro-negros cariocas... O fato do Sport ter jogado contra Bangu, Guarani, etc. não tem nada a ver com a legitimidade do título. Vale lembrar que, coincidentemente, o adversário da semifinal, Bangu, foi o vice de 1985. O Guarani, foi o vice de 1986.

Por mais que o Clube dos 13, na época, tivesse como objetivo trazer uma nova realidade ao futebol brasileiro, jamais poderia alijar da competição 14 times que no ano anterior tinham o legítimo direito de disputar a primeira divisão. Desses, 6 jamais conseguiram usufruir desse direito. Um grupo de 16 times que exclui o vice-campeão do ano anterior e o 4º colocado e convida o 44º, por exemplo, não tem direito algum de se proclamar como primeira divisão do campeonato nacional. O fato de não ter sido concluída a disputa entre Sport e Guarani na final do módulo amarelo não impediria em nada a realização do quadrangular, que previa a disputa entre os finalistas de cada módulo.

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Pessoal, essa matéria mostra um pouco o ponto de vista de varios jornalistas a favor do Sport, o que é bem difícil, já que a maioria fica ao lado do maior clube, no caso, o Flamengo. Na 3ª parte da matéria, vou colocar um artigo do ponto de vista de um jornalista a favor do Flamengo.