segunda-feira, 19 de maio de 2008

UMA PSICÓLOGA QUE ESCREVEU ALGUMAS VERDADES - M. PEDROZA


CULTURA & ARTE

AUTORA MARÍLIA PEDROZA


Uma psicóloga que assistiu ao filme Cazuza - O Tempo não Pára escreveu o seguinte texto:

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Fui ver o filme Cazuza - O Tempo não Pára há alguns dias e me deparei com uma coisa estarrecedora: as pessoas estão cultivando ídolos errados.

Como podemos cultivar um ídolo como Cazuza? Concordo que suas letras são muito tocantes, mas reverenciar um marginal como ele, é, no mínimo, inadmissível. Marginal, sim, pois Cazuza foi uma pessoa que viveu à margem da sociedade, pelo menos uma sociedade que tentamos (ao menos eu) construir com conceitos de certo e errado.

No filme, vi um rapaz mimado, filhinho de papai e que nunca precisou trabalhar para conseguir nada, já tinha tudo nas mãos... A mãe vivia para satisfazer as suas vontades e loucuras... O pai preferiu se afastar das suas responsabilidades e deixou a vida "correr solta". São esses pais que devemos ter como exemplo? Cazuza só começou a gravar pois o pai era diretor de uma grande gravadora. Existem vários talentos que não são revelados por falta de oportunidade ou por não terem algum conhecido importante.

Cazuza era um traficante, como sua mãe revela no livro. Ela admitiu que ele trouxe drogas da Inglaterra. Um verdadeiro criminoso. Concordo com o juiz Siro Darlan quando ele diz que a única diferença entre Cazuza e Fernandinho Beira-Mar é que um nasceu na zona sul e outro, não.

Fiquei horrorizada com o culto que fizeram a esse rapaz e, principalmente, com o fato de minha filha adolescente ter visto o filme. Precisei conversar muito para que ela não começasse a pensar que usar drogas, participar de bacanais, beber até cair e outras coisas fossem certas, já que foi isso que o filme mostrou.

Por que não são feitos filmes de pessoas realmente importantes, que tenham algo de bom para essa juventude já tão transviada? Será que ser correto não dá Ibope, não rende bilheteria? Como ensina o comercial da Fiat, precisamos rever nossos conceitos. Só assim teremos um mundo melhor. Devo lembrar aos pais que a morte de Cazuza foi consequência da educação errônea a que foi submetido. Será que Cazuza teria morrido do mesmo jeito se tivesse tido pais que dissesem "não" quando necessário? Lembrem-se: dizer "não" é a prova mais difícil de amor. Não deixem seus filhos à revelia para que não precisem se arrepender mais tarde. A principal função dos pais é educar. Não se preocupem em ser amigos de seus filhos. Eduque-os e mais tarde eles verão que você foi a pessoa que mais os amou e que foi, é, e sempre será, o seu melhor amigo, pois amigo não diz "sim" sempre.

Karla Christine
Psicóloga Clínica

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Isso é para percebermos por que a mídia recebe o carinhoso apelido de "quarto poder". De fato, foi dada tanta atenção para uma pessoa que fez coisas tão erradas e que não devem ser tomadas como exemplos. Outro aspecto importante para se considerar é: o que nós, como futuros "atores" da mídia, vamos levar o que para os ouvintes, leitores e telespectadores? Será que estamos nos preparando adequadamente para a responsabilidade que teremos? Nós influenciaremos a opinião pública, nós ajudaremos a construí-la. Pensem nisso.