quinta-feira, 22 de maio de 2008

O QUE É SER JORNALISTA? - C. SALES


ASSUNTOS VARIADOS

AUTORA CAMILA SALES


Refletir sobre a iniciação à prática profissional impõe que se comece pelas expectativas. É ao confrontá-las com a realidade que nascem as frustações, estupefações e os deslumbramentos. O jornalista observa, através de suas lentes culturais e sociais, a idéia que um jornalista faz do exercício da profissão, o modo como a analisa. Os caminhos que entende que ela deve seguir constituem também olhares fortemente influenciados pelo local de trabalho.

Um órgão de comunicação poder ter seus códigos próprios, uma cultura jornalística específica interiorizada por toda a redação, mas a forma como cada jornalista se vê no interior dessa cadeia varia de acordo com "o terreno que pisa".

A rotina das convenções podem dominar a produção diária de um jornal, porém escrever não deixa de ser um ato de cultura e imaginação. Fazer notícias e reportagens pode ser entendido como contar "estórias", próximas das formas narrativas e discursivas de ficção. A notícia exige imaginação e riqueza linguística, além da exigência também de um forte domínio das convenções narrativas. Mas, verdadeiramente, não é bem assim; as notícias têm o mundo real como referência; narram, discursam histórias da própria sociedade.

Um jornalista, na prática, é meramente reduzido a uma porção de papéis e informações, aptos a serem reorganizados por ele, sentado em frente a um computador. As páginas de um jornal são um espaço exíguo onde cada notícia tem de disputar um lugar que ganhará por mérito próprio ou por demérito de outras.

Como qualquer profissão, Jornalismo também enfrenta lutas por melhores condições de trabalho. O jornalista é bem mais efetivamente valorizado no Sudeste, onde os salários apresentam uma efetiva diferença dos profissionais das outras regiões.

O Jornalismo é uma profissão que tem por natureza o intuito de reivindicar os direitos dos cidadãos, é uma atividade social, porém não defende seus próprios direitos. Não é à toa que é considerada uma subprofissão.

O piso salarial na capital paulista é de R$ 964 (jornada de cinco horas) e R$ 1.542,40 (jornada de sete horas). No Rio de Janeiro, a média salarial é de R$ 813,65 (jornada de cinco horas) e R$ 1.302,29 (jornada de sete horas). Esse é o salário do redator na Capital. Imagine, então, outras mídias, principalmente o rádio, primo pobre da profissão. Para mesclar a baixa remuneração, existem alguns benefícios escritos nas cláusulas dos sindicatos: transporte gratuito (para exercer a função), vale-refeição ou cesta básica (esta com desconto de 20% do empregado), auxílio-creche de R$ 135 por filho de até seis anos de idade, auxílio-viagem (se for a trabalho) e seguro de vida no valor mínimo de R$ 15 mil.

O Estado do Piauí tem a fama dos menores salários do setor. E não é apenas fama. A presidente do Sindicato dos Jornalistas do Piauí, Teresinha de Souza Val, disse que o piso da região é de R$ 730. Ela ainda ressaltou que a média salarial do jornalista no Brasil é de dois mil reais e apenas 10% ganham mais que cinco pisos salariais. E é por essas e outras que se diz que o jornalista tem que amar a profissão.

A culpa é dos próprios profissionais da área. Se os jornalistas tivessem mobilização e não ficassem com medo de perder o emprego, hoje já estariam com uma faixa salarial bem melhor. Para sobreviver, o jornalista acaba caindo no duplo, e até no triplo emprego. Mas isso não se restringe apenas ao Brasil; diversos países de primeiro mundo enfrentam os mesmos problemas na área de Jornalismo. Um jornalista francês, por exemplo, ganha 18.700 francos mensais (cerca de 2.600 dólares).

É preciso haver uma distribuição coerente e justa entre as diversas mídias e as regiões do país. Não é justo um radialista do Piauí ganhar um salário mínimo ao mesmo tempo em que uma pequena parcela ganha mais de cem mil reais. Mesmo que sejam proibidos de escancarar a difícil situação que os aflige, os jornalistas devem reivindicar seus direitos. Ele é um cidadão e merece viver como tal.

Todos esses dados apresentados não servem e nem devem servir para desestimular os futuros profissionais, mas como uma espécie de alerta para os problemas em que serão inseridos, e depertar em todos uma enorme vontade de revolucionar, de transformar essa realidade. Que o amor pela atuação do jornalismo seja demonstrado pela satisfação e força de luta para a prática do bom exercício da profissão.


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FONTE> Sindicato dos Jornalistas do Ceará

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