sexta-feira, 11 de abril de 2008

ISABELLA E A MÍDIA - C. MARCELO


ASSUNTOS VARIADOS

AUTORA CAMILA MARCELO


Na penúltima aula de Introdução ao Jornalismo, 08 de abril, tivemos um debate sobre a intensa divulgação pela mídia sobre a trágica morte de Isabella de Oliveira Nardoni.

O acidente ocorreu na noite de 29 de março e, desde esse dia, o fato é narrado em todos os jornais de canal aberto. Se aquele que organiza a pauta jornalística soubesse ministrar melhor a notícia sobre o "caso Isabella", colocando apenas novas informações que pudessem solucionar a questão de quem foi o culpado de sua queda do sexto andar, talvez não haveria a repetição de dados já abordados ou a duração da matéria seria reduzida.

Todas as partes do Jornal Hoje apresentaram elementos irrelevantes no caso da menina de cinco anos: mostrou uma conversa com a irmã do Alexandre, Cristiane, os minutos de cada telefonema feito na noite do incidente e o decreto da Justiça a favor da liberdade do casal Alexandre Nardoni e Anna CarolinaJ atobá, presos há oito dias. O que poderia perdurar por, no máximo, dois minutos, tornou-se metade do jornal de hoje.

Por que há mais cobertura desse assunto quando já houve piores e o nível de importância dado para estes pela mídia foi mínimo comparado ao caso da menina Isabella? Na primeira quarta-feira desse mês, 02 de abril, aconteceu algo semelhante¹

e o vi sendo abordado no jornal da televisão por apenas um dia e somente como fragmento de uma matéria sobre Isabella. Então, como se justifica essa predileção?

Todos os dias surgem novas conseqüências da estrondosa chuva no Nordeste, os hospitais continuam não tendo como suprir o intenso número de pessoas com suspeita de dengue, manifestações durante a passagem da tocha olímpica pelos estados europeus, americanos e asiáticos persistem, acidentes ocorrem, infelizmente, diariamente, mas não há tanta divulgação sobre notícias globais, apenas sobre o infortúnio da noite de 29 de março.
Realmente espantou a todos o falecimento dessa linda garota que iria fazer aniversário na semana seguinte do desastre e com certeza é muito importante informar quando houver novas pistas que auxiliem para desvendar o mistério, mas a mídia não pode descuidar-se da sua meta de informar continuamente sobre o mundo e com maior ênfase o Brasil e concentrar-se em apenas um fato.

A finalidade do Jornalismo, segundo Bill Kovach e Tom Rosenstielno, no livro Os Elementos do Jornalismo, é "fornecer aos cidadãos as informações de que necessitam para serem livres e se autogovernar". As pessoas precisam das notícias por causa de um instinto básico do ser humano, que é nomeado de Instinto de Percepção, então, é importante manter a sociedade informada dos fatos em andamento, como também de novos temas e acontecimentos do mundo. Finalizo, por fim, perguntando: será que há algo por trás dessa intensa cobertura pela mídia sobre a morte de Isabella ou realmente eles acreditam que esse fato é mais relevante do que todas as tragédias diárias no Brasil, por assaltos, enchentes ou imprevistos?

¹Charlene Pimenta de Andrade, 10 anos, caiu do quarto andar de um prédio em Cariacica (ES). A suspeita é de que a criança, para fugir da agressão do pai, acabou pulando a janela. Ela teve fraturas no tornozelo direito e na bacia, mas está fora de perigo e não corre risco de morrer. O pai da menina vai continuar preso durante a investigação.

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NOTA DO EDITOR: Mais uma vez, a Doutora em Jornalismo Camila Marcelo nos prestigia com uma instigante matéria sobre a magnífica polêmica que assistimos a todo momento na TV sobre Isabella. O texto, como sua última resenha, também foi postado no seu blog pessoal e pode ser conferido aqui.

7 comentários:

Anônimo disse...

Oi aqui é a BárbaraG, achei bem legal o texto e concordo com a Camila, é muito importante mostrar novas descobestas para desvender o mistério que foi a morte dessa menina, mas o jornal inteiro ser apenas isso é muito errado, além do mais não ter mais jeito sabe? As enchentes no nordeste ou a epidemia da dengue são eventos que ainda podemos tentar reverter ou, pelo menos, tentar conscientizar a população de certos cuidados.

;*

quinderégomes disse...

Como foi citado na nossa aula, eu acho que esse caso tá tendo mais espaço na mídia, pelo fato da criança ser de classe média.

Em parte, isso pode ser bom, porque mostra que tragédias não assolam somente a classe baixa.

Mas a parte ruim, como a Camila mesmo disse, é a duração disso tudo e o espaço que ela toma nos jornais. Ao invés de continuar noticiando os outros acontecimentos em redor do mundo e, especialmente, Brasil, eles se demoram em fatos já ditos.

Não mostrar 'sempre' o caso Isabella não seria descaso com a situação, mas deixar de mostrar situações equivalentes a essa e demonstrar total desmerecimento às outras notícias, isso sim pode ser chamado de descaso.

Anônimo disse...

Longe demais

A televisão continua extrapolando na cobertura da morte da menina Isabela. Ontem, o programa “Bom Dia Mulher”, da Rede TV!, chegou a exibir seqüências do desenho “Branca de Neve e os Sete Anões”, relacionando a tragédia à vilã Madrasta, personagem desse longa-metragem infantil. Coisas de enlouquecer qualquer um. Há até os que montam cara de tragédia, tentando passar indignidade, quando estão mais interessados em buscar pontos no Ibope. E por aí se verifica que os grandes artistas da nossa tevê não estão restritos somente às suas novelas. Alguns desses nossos colegas jornalistas surpreendem pela facilidade que têm de se prestar a qualquer coisa, por ordem, claro, de suas editorias. Uma vergonha. E os exageros não param. Dia desses, o helicóptero da mesma Rede TV! acompanhou por 33 minutos um carro pelas ruas de São Paulo, dizendo que dentro dele estava o advogado do pai da menina. Depois de todo esse tempo, sai de dentro do veículo um senhor de cabelos grisalhos, que nunca teve nada com a história. Quando nenhum fato novo é acrescentado ao caso, ficam repetindo os conhecidos, até 14 ou 15 vezes. E assim vamos indo, agora, inclusive, com a Bandeirantes acusando Globo e Record de roubar as suas imagens. Jornalismo sério não é isso.

Flávio Ricco,
Canal 1 - Buchicho - O Povo

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Acho que isso serve pra ilustrar bem o post da Camila, e acrescentar informações também.

Camiℓa Marceℓo disse...

Outra matéria que eu não concordei foi quando fizeram uma entrevista com um psiquiatra e perguntaram o que leva um pai a matar um filho.

Ainda não sabem quem é o culpado, muito menos há provas concretas que seja o pai e, mesmo assim, colocam essa matéria intencionando as pessoas a acharem que o pai é culpado.

Anônimo disse...

eu acredito que todo e qualquer um que já assistiu ao filme "o quarto poder", que a professora bete nos mostrou numa de suas aulas, está agora pensando sob uma perspectiva diferenciada.

o que quero dizer é que se nota perfeitamente bem como a mídia e a imprensa no geral está - e é essa a palavra correta, camila - intencionando os cidadãos, o grande "público que se comove". como a bárbara comentou no início, eu também creio que o que basta, basta. ou seja, o fantástico não precisa tomar seu tempo inteiro estudando e especulando mais e mais sobre a morte da menina. isabella, infelizmente, não está mais entre nós. tudo o que deveria interessar a qualquer pessoa, agora, é a resolução definitiva do caso.

imaginem só o desespero que a mãe da garota está vivendo. a tormenta que deve ser ligar a tv a qualquer hora do dia e ouvir falar mais e mais sobre sua filha querida.. e nenhum resultado, e nenhuma acusação, e apenas testemunhos, especulações.. pistas?

quando é que isso vai ser resolvido? vocês, leitores e viventes, acreditam que o caso vai ser solucionado pela polícia brasileira?

Anônimo disse...

jornalismo sério não é isso. isso o que está acontecendo é outra coisa.

Anônimo disse...

confesso que não estou acompanhando tão de perto assim esse assunto até por esse circo que se formou. realmente foi uma tragédia, uma barbarie o que aconteceu, mas já chega. a polícia deve investigar o que aconteceu e quando surgir novidades tudo bem voltar à tona.