POLÍTICA & ECONOMIAAUTOR
GABRIEL MACEDOEm primeiro lugar, considero o assunto de que vou falar como parte da categoria Política & Economia porque creio que o que esteve acontecendo na Universidade de Brasília (UnB), além de passear nos campos culturais, sociais e por vezes pessoais, refere-se, em grande instância, à política brasileira como um todo. Quando falamos de política, pensamos em homens carecas que usam ternos sem graça e gravatas sem cores, óculos e canetas douradas, mas existe uma política na cabeça de cada estudante, do colégio à Universidade, e essa política é tão poderosa quanto qualquer outra existente.
Desde o dia 3 de abril, um severo número de estudantes da Universidade de Brasília tem estado, sem segredos e delongas, na reitoria da Instituição. A tomada do prédio é, fatualmente, uma invasão, mais ou menos como aconteceu, no ano passado, na Universidade de São Paulo (USP). Os alunos, até o dia 10, decidiram em assembléia manter a invasão e paralisar as aulas pelos dias seguintes, firmes e fortes na idéia de que só deixariam o prédio da reitoria na ocasião da renúncia do reitor Timothy Mulholland. A Polícia Militar não estava presente, mas não foi preciso. O número contado pelos próprios estudantes era de 1.600 pessoas em assembléia.
Segunda-feira, água e luz foram cortadas da Universidade. Os alunos também decidiram, na mesma reunião, que deixariam a reitoria quando, também, religassem as luzes e deixassem jorrar a água. No entanto, o ambiente não é de decadência. Enquanto esperam pelas decisões dos "homens do poder", os alunos dançam funk, praticam yoga, jogam futebol e vôlei. Não se trata, porém de um movimento pacífico. Manifestações contrárias à ocupação esquentam o clima a cada momento de tensão. Cerca de 300 servidores e professores da UnB foram ao edifício, em apoio ao reitor Mulholland. Um acidente já aconteceu. Trata-se da queda de um estudante de artes cênicas de um dos andares da reitoria. Felizmente, o rapaz passa bem e já voltou à ocupação, seu espírito revolucionário fervendo.
O reitor foi acusado em ação de mau caráter administrativo de usar de forma "ilegal" recursos que deveriam ser destinados à pesquisa na decoração de apartamento funcional. Mulholland se defendeu em nota: "Finalmente, tenho o direito de conhecer a acusação e de me defender na Justiça, onde meus direitos serão respeitados". Na semana passada, ele disse, com convicção, que não intenciona renunciar.
Pois muito bem. Vejam bem: ele o fez. O ministro da Educação, Fernando Haddad, afirmou que parlamentares, outros ministros e até mesmo o presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Cezar Britto, chegaram a apelar ao reitor que ele abandonasse o cargo por alguns dias. O Ministro mostrou-se extremamente responsável e envolvido na questão, comprometendo-se com tudo o que estiver acontecendo. Durante 60 dias, o reitor Timothy Mulholland ficará afastado da reitoria e seu vice, Edgar Mamiya, ficará a cargo. Em nota, o reitor afastado disse:
"Foi uma decisão pessoal para assegurar princípios constitucionais de eficiência, publicidade, moralidade, impessoalidade, legalidade e transparência nos fatos a mim imputados."
Para quem disse: "Eu entrei na forma da lei e sairei na forma da lei", é até engraçado observar o quão forte é o poder da pressão estudantil, força vital de qualquer instituição de ensino. Uma ação do Ministério Público Federal no Distrito Federal e do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios protocolou que cerca de R$ 470.000 foram desviados do financiamento de projetos e pesquisas e desenvolvimento institucional da UnB para mobiliar e decorar um imóvel do reitor. Além disso, R$ 72.000 foram usados para comprar um automóvel de uso exclusivo do mesmo.
Absurdo? Também acho.